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PORQUE A BELEZA IMPORTA?


O título é de um documentário da BBC apresentado pelo filósofo e escritor Roger Scruton - "Why beauty matters?" - que nos remete para uma viagem sobre as transformações que o conceito de beleza tem vindo a passar.


"Em qualquer época entre 1750 a 1930, se pedisse às pessoas cultas para descrever o objetivo da poesia, da arte ou da música, elas teriam respondido: a beleza. E se perguntasse pela razão disso, aprenderia que a beleza é um valor tão importante quanto a verdade e o bem. Depois, no século XX, a beleza deixou de ser importante. Não era a beleza, mas a originalidade, conseguida a qualquer custo moral, que ganhava prémios." É com esta introdução que Roger Scruton começa o documentário.


Ao longo documentário o autor mostra-nos que, durante mais de 2000 anos a beleza era uma necessidade universal dos seres humanos, a beleza era remédio para o caos e sofrimento da vida. Diz-nos: “A bela obra de arte trazia consolação na tristeza e afirmação na alegria.” Ou seja, a beleza era algo de transcendente ao que vemos, a beleza era um conjunto de aparência e alma - não se resumia a um plano material.



O marco dessa mudança, segundo Scruton foi a célebre "A fonte" (ou "O urinol") do Marcel Duchamp, não pelo objeto em si, mas porque gerou a interpretação de que tudo pode ser arte. O efeito disso foi que, no século XX, a arte não se eleva mais a um plano moral ou espiritual mais alto e é apenas mais um gesto humano como os outros, sem maior significado que uma gargalhada ou um grito e, com isso, o mundo foi virando costas para a beleza.


Scruton diz mesmo que houve uma transmutação na hierarquia de valores e, por isso, e a beleza foi perdendo espaço para a utilidade, incomodidade e agressividade. Na arquitetura, um dos primeiros a pautar-se pela utilidade e funcionalidade foi o arquiteto Louis Sullivan, com o seu lema “ a forma segue a função”. Surgiram aí os primeiros arranha céus, edifícios de escritórios - foi o apogeu do vidro, do betão e do aço, e a beleza passa para segundo plano. O autor mostra-nos exemplos práticos em que, muito ironicamente, alguns edifícios pensados sob esta fórmula se tornam inúteis quando perdem a função inicial para o que foram pensados, tendo que ser demolidos e construídos novos edifícios. Basta pensarmos: se só importou a função, deixando de ter essa função, o que sobra para poder ser reaproveitado?


É, sem dúvida, um documentário pertinente para nos fazer pensar porque a beleza importa e sobre a forma como estamos a viver, porque o funcional não é suficiente para vivermos bem e felizes. E o fato de estarmos expostos visualmente a muitas más referências, contribui para que tenhamos cada vez mais dificuldades em perceber o belo, em sentir a beleza, aquela que vai para além do plano material e nos consola a alma.


Termino esta reflexão com uma frase do Roger Scruton em que acredito muito: Priorize a utilidade e a beleza se perderá, priorize a beleza e o que construir será útil para sempre.”



Um abraço,

Ana.

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